O pão nosso de cada dia

terça-feira, 31 de maio de 2011

Helena e Dudu! E feliz aniversário, tia Wanda!!!

Ontem, segunda-feira, foi feriado por aqui: feriado de primavera! Esse é o nome.
Ontem também foi o dia em que meus filhos lindos e adorados chegaram.

Às quatro horas da manhã acordei, tamanha minha ansiedade, e não dormi mais. Quatro horas da manhã em Hertford , meia-noite no Brasil, hora em que eles estavam embarcando, o que significava que eu tinha ainda umas boas 13 horas para esperar até  que visse a Helena e o Dudu entrando em casa.

Levantei-me, fiz café e voltei para a cama para ler. Claro que não conseguia me concentrar. Achei melhor então ficar navegando na web – meu cérebro só suportava atividades que não demandassem muita atenção, assim,  a velocidade e ritmo da internet eram perfeitos  - olha a página, clica, vai para outra e depois outra, tudo em questão de segundos.  Excelente para cérebros e almas DDAs!

Fiquei assim, sem fazer nada, por um tempão, até que resolvi levantar e começar a série de afazeres que  precisa terminar antes das crianças chegaram.

Primeira coisa: supermercado! Esta é uma tarefa que cumpro dia sim, dia não. Como vou de ônibus , não dá para trazer muita coisa. Minha geladeira é daquelas pequenininhas de hotel, então também o espaço para guardar perecíveis é minúsculo. Ao lado da geladeirinha, tenho um congelador horizontal que ajuda, mas mesmo assim, mantenho a freqüência de visitas ao Tesco e ao Waitrose bem assíduas.

Peguei minha sacola do Tesco e fui embora. Lá comprei leite, biscoitos doces para o café da manhã deles, também pensei em fazer alguma coisa para o jantar, então comprei filés de peixe, batatas para um purê (comida que abraça a alma da gente) e espinafre para a salada. Pus na sacola abacate (adoro), iogurte (os daqui são maravilhosos), suco, açúcar e doispacotes de pão francês congelados. Pronto, a sacola já estava cheia e pesadíssima. Pensei até que ia arrebentar!

Sai do Tesco, atravessei a rua e fui a uma loja de departamentos – Matalan – para comprar travesseiros. No domingo eu tinha ido ao TKMaxx em busca deles, mas achei tudo caro. Vi no site da Matalan que eles fariam uma liquidação no feriado e os travesseiros sairiam pela metade do preço. A palavra "liquidação" tem um poder inebriante sobre mim, não consigo lutar contra! Assim, fui para lá.
A loja estava cheia, mas achei os travesseiros - comprei quatro!

Agora o drama – como levar tudo aquilo para casa? De ônibus seria impossível e resolvi voltar de táxi. Em Hertford você não consegue achar um táxi na rua, eles ficam todos parados em algum ponto e só atendem reservas ou pedidos por telefone. Liguei para o ponto, mas eles só teriam um carro em 30 minutos. Concordei e fiquei esperando na Matalan. Em quinze minutos o táxi chegou e me levou  embora. O que era para ser uma corrida barata – cinco pounds – acabou se tornando mais cara em virtude da “bandeira dois”,  também existente por aqui. Ontem era feriado e as tarifas estavam mais caras.

Em casa, comecei a arrumação: varre, guarda, arruma as camas, monta o edredom da Helena, varre de novo, guarda a louça seca, recolhe (mais) lixo, tira a roupa do varal, dobra, coloca no armário. Às duas e meia já tinha acabado. O vôo deles deveria pousar às 15h.

Meu próximo projeto: montar uma trave de gol que comprei para o Eduardo. As partes do brinquedo estavam em uma caixa, esperando para serem conectadas.  Junto, uma bola de futebol murcha e uma bombinha para enchê-la. Gastei uns 40 minutos na empreitada – quando encaixava uma parte da trave, outra se soltava e o gol não parava em pé. Por fim, montei aquele “esqueleto” e levei-o para o quintal. Fixei a trave no chão com os ganchos e pronto! Só faltavam agora a bola e um menino para chutá-la. Não pude resolver tudo  porque a bomba de encher veio com defeito – falta aquela agulha na ponta que leva o ar para o interior da bola.

Olho no relógio, 15h30. Não me agüentei mais e liguei o computador – eu precisava me distrair! Percebi que já estava online porque uma mensagem do skype de minha mãe pulou na tela: “e as crianças, como estão?”.  Expliquei que não haviam chegado ainda e ela também já entra no modo ‘surtada’: “como assim, não chegaram? A que horas era o vôo? Mas já chegaram no aeroporto? Manda um torpedo para o pai deles. Me avise assim que souber de alguma coisa”.

Enquanto trocávamos estas mensagens serenas, liguei para a companhia de táxi que iria esperá-los no aeroporto. Perguntei se tinham notícias do motorista e se o vôo já tinha chegado –  o senhor me informou que eles já estavam a caminho de minha casa! Ai que alívio, que boa notícia. Avisei minha mãe, que, assim como eu, ficou mais tranqüila.

Voltei para a sala, sentei nos degraus da escada e me entretive com um joguinho no celular. Perdi todas as partidas, tamanho meu grau de (nenhuma) concentração.
O dia, que tinha começado ensolarado, agora estava cinzento, frio e uma fina garoa cobria as ruas e os gramados.

Depois de um tempo escuto um carro parando aqui na frente. Vou até a janela e vejo a Helena e o Dudu! Abro a porta e eles vêm correndo me abraçar! Que saudade que eu senti nestes 45 dias! Abraços, abraços, beijos, apertões, mais abraços, crianças quase sufocando...
Eles foram entrando e entupindo a casa com malas, bolsas e malões.

O Dudu já foi logo avisando: “tô MORRENDO de fome!”. Neste momento me dei conta que eu também estava em jejum e, condicionada, passei a me sentir faminta também. O táxi que os trouxera ainda estava na porta, descarregando as tralhas. Perguntei se eles queriam comer em casa ou se preferiam sair. Escolheram a segunda opção e aproveitamos o mesmo motorista para nos levar a um restaurante italiano que fica no centro da cidade, a exatos cinco minutos de minha casa.

Lá fora fazia bastante frio, mas a alegria era total e a gente nem se importou. O Dudu encontrava-se num altíssimo grau de excitação.

Entramos no restaurante quentinho, e com algumas mesas ocupadas por famílias e crianças.
Pedimos algumas entradas – o Eduardo comeu a dele, pão de alho com queijo, e parte da minha, camarões apimentados com pão de alecrim.

Os pratos principais vieram e mais uma vez ele comeu tudo – risoto com frutos do mar. A Helena, sendo a Helena,  comeu bem menos.
Eduardo distribuía “yes” e “thank you” para todo mundo!

Para a sobremesa os dois dividiram carolinas com recheio de sorvete de creme e calda de chocolate quente. Comeram tudo e o Eduardo queria pedir outra. Não concordei e pedi um café para encerrar a refeição. O cafezinho veio “curto”, forte, gostoso. Tomei um golinho e o Dudu pediu para tomar também. Dei minha xícara para ele que, em seguida, comentou: “que delícia o café daqui!”. Tomou tudo.

Saímos do restaurante e as crianças queriam andar. No entanto, a garoa estava forte e o vento gelado.
Mesmo assim, eles insistiram e fomos andando até um ponto de ônibus. Eles conversaram, observaram, perguntaram, os dois animadíssimos.

Chegamos no ponto de ônibus e vi que o coletivo só chegaria em dez minutos. Ficamos ali, protegidos da garoa, menos o Eduardo, que andava para lá e para cá, sem casaco: “não sinto frio”.

Ao lado deste ponto de ônibus há um canal bem bonito, onde passam barcos por um caminho coberto pelas copas das árvores. De repente, dois patos saem do canal e vêm até o ponto de ônibus: patos fofos, rebolativos e barulhentos. Helena e Dudu enlouquecem com os bichinhos. Aí ninguém mais segurava o Dudu. Ele ia atrás dos patos, andava na chuva, ria, sumia e depois voltava. A pobre da Helena, de lábios roxos, tremia em baixo da cobertura de plástico do ponto.

O ônibus chegou e nos trouxe até em casa. Aqui, o Eduardo comunica: “vou sair para conhecer o bairro. Quero fazer amigos.” Exliquei que,apesar de o dia estar claro, já eram mais de sete horas da noite e chovia. Não haveria nenhum “amigo” na rua para ele conhecer.

Helena e Dudu se despediram do pai, que foi para a Londres, mas ficou de telefonar na sexta-feira para combinar algum programa com eles. No sábado ele volta para o Brasil.

A Helena começou a desfazer suas malas e o Dudu encheu a banheira e ali permaneceu submerso por quase vinte minutos. Em seguida foi a vez da Lelê .
Limpos e agasalhados, atacaram os biscoitos e um copo de leite cada um.

Às dez horas fomos para a cama. Li algumas histórias de um livro de contos que a Helena trouxe. A Renata ligou, falou com o Dudu, mas não com a Helena que já estava dormindo. O Eduardo ainda tinha energia e ficou conversando comigo até a meia-noite.
Agora são 8:40 da manhã e o dia está lindo, céu azul e sol brilhando. Quando eles acordarem vamos explorar a cidade. Segundo o Eduardo nos avisou ontem: “amanhã nós vamos passar o dia todo fora de casa, mãe”

É isso! Eu não poderia estar mais feliz - só estaria se o Pedro também estivesse aqui, mas eu ainda chego lá! Com a ajuda de Deus e de minha família estamos nos estabelecendo por aqui! Muito obrigada!

Wanda querida, ainda não tenho telefone então não vou conseguir falar com você. Mesmo assim, parabéns, felicidades e obrigadíssima pela força! 

Um beijão a todos e aguardem notícias dos dois curumins em terras européias.

Cheers,

Cláudia


sábado, 28 de maio de 2011

Não é assim uma Brastemp...



A novela da máquina de lavar roupas...

No nosso último encontro eu contei para vocês que estava às voltas com a lava-roupas que não funcionava. Primeiro foi a porta que não fechava, depois a água que se recusava a entrar.

Pois bem,  naquele mesmo dia, um pouco mais tarde, o “handy-man” que trabalha para o Paul, o dono da casa que alugo, apareceu por aqui para ver o que estava acontecendo.

Ele tirou a máquina do seu lugar – aqui abro e fecho parênteses para explicar que a lava-roupas sempre fica na cozinha nas casas inglesas. Confesso que achei meio nojenta esta história de concentrar, num mesmo espaço, roupa suja e comida, mas agora acostumei. Este eletrodoméstico faz parte de toda cozinha e seu lugar já é planejado na planta da casa. Ela fica encaixidinha, entre o fogão e a pia. Para remover a dita cuja do lugar são necessários dois homens – nunca vi nada tão pesado! Não se compara ao peso das máquinas brasileiras. O senhor “faz-tudo” me disse que é porque na base do motor existe um bloco de cimento que evita que a máquina “ande” ou “dance”. Não sei se é verdade ou não, mas que ela é pesadíssima, isso é!

A única casa que conheço por aqui que não respeita a regra de ter cozinha e lavanderia juntas é a casa da Renata – ela deu um jeito de instalar a dita cuja no banheiro. Como no meu banheiro não cabe nem um cesto de roupa suja, o jeito é deixar tudo como está.

Bom, voltando ao assunto da máquina que não funciona e da pilha de roupas sujas que se avoluma, o “faz tudo” tirou a máquina do lugar – não depois de muito bufar e suar, coitado – e constatou que o registro atrás da máquina estava fechado. Ai que fácil!! Ele mexeu, remexeu, colocou a lava-roupas no lugar e pronto! 
Vamos ao teste! Ligamos e logo ouvimos o barulhinho precioso da água entrando no tambor. Ótimo, maravilha, muito obrigada, quê isso imagina, até logo!

O homem foi embora e eu fui mais uma vez lavar minhas roupas que já clamavam por um banho! Coloquei tudo dentro da máquina novamente, dosei o sabão em pó – que aqui não é em pó, é líquido – acrescentei o amaciante e voilá, liguei o trambolho!
Como já disse, as lava-roupas aqui são todas com abertura frontal, com portinha de vidro, então dá para ver o que está acontecendo lá dentro. Gira para um lado, gira para o outro, vai, volta e, finalmente, a água entra, linda e fresca, para ajudar o sabão a deixar tudo limpinho e cheiroso!

Subi para o meu quarto para ler enquanto ouvia o zumbido da máquina funcionando lá embaixo. Paz! Cerca de 40 minutos depois, quando estava super concentrada na leitura (Tales of the City, obrigada Renata!) sou chamada de volta para a terra  dos dramas domésticos graças a um apito que começa a soar alto. Dei um pulo, sai correndo para a cozinha e vi que o apito vinha, claro, daquele monstrengo branco, que sinalizava com uma luzinha vermelho piscante:  “no drain”, ou em outras palavras, agora a água não estava sendo drenada, não achava o caminho da saída! Na minha cabeça, duas palavras:        mer-da!!

Eu não queria acreditar! Apesar de estar no meu direito, eu não tinha mais cara de ligar para a Lisa para falar sobre o mesmo assunto. Resolvi então tentar a mesma coisa que o “faz-tudo” já tinha feito. Puxei a máquina – quase morro gemendo e me esfalfando! – e procurei, em vão, um registro, uma torneira, uma válvula, qualquer coisa que pudesse me dar uma pista do problema. Niente!

Não havia mais nada que eu pudesse fazer naquele momento – às 19h a imobiliária já estava fechada. Aliás, ela fecha as cinco da tarde. Detalhe: eu não posso ter contato com o landlord. Qualquer problema que eu tenha, qualquer coisa de que eu precise, tenho que falar com a Lisa que, por sua, vez, encaminha o pedido ao Paul.

Tinha que deixar para o dia seguinte.

Naquelas alturas eu já estava com fome e com frio! Liguei o aquecedor, preparei um farfalle ao alho e óleo e jantei assistindo The Sopranos (vi três episódios seguidos!). Uma taça de vinho tinto, claro. Sim, cansada de tomar vinho em xícaras, achei por bem comprar uma taça. Acredito que a bebida perde um pouco de seu sabor e prazer quando tomada em qualquer copo. A única taça que achei no supermercado custou 99 centavos e é feita de um vidro bem grosso. Desconfio que seja vidro blindado! Se der um tiro na taça a bala não atravessa. Ainda assim, gostei!

No dia seguinte, sexta-feira pela manhã, liguei para a Lisa e repeti a ladainha: a máquina de lavar não funciona, sorry! Ela me disse que não eu não precisava me desculpar, que a culpa era toda do proprietário que deveria ter deixado a casa em perfeitas condições para que eu a ocupasse: limpa e com tudo funcionando. Em seguida, prometeu conversar com ele e me avisar sobre a hora em que viriam ao meu socorro.

Fiquei por aqui, arrumei algumas coisas, dei uma volta pelo bairro, enfim, fiquei enrolando! Não podia ir longe porque a qualquer momento a Lisa poderia me ligar avisando sobre a vinda do dono da casa e seu “faz-tudo”. Às 17h o “handyman” apareceu. Já entrou se desculpando, coitado, e foi lá mexer na máquina cimentada! Olha, puxa, arrasta e o veredicto: “não sei qual o problema! Teremos que chamar um encanador! Mas ele só virá amanhã, sorry.”

Tudo bem, tudo bem! Vi que este homem usa umas doze pulseiras de cobre, tipo as antigas Sabona, alguém se lembra? A promessa do fabricante era que as pulseiras Sabona deixariam seu metabolismo e sua aura mais equilibrados. Eu quase pedi uma Sabona para o senhor. Eu precisava mesmo de muito equilíbrio. Enquanto isso a máquina estava cheia de água e com as minhas roupas apodrecendo lá dentro. Confesso que até pensei em tirar as peças molhadas de lá (ai, preguiça!!!), mas quando abrisse a portinha, uma catarata de água suja invadiria minha cozinha. Resolvi deixar tudo como estava.

Hoje, sábado, achei que seria uma boa idéia dar uma passada no TK Maxx, uma loja de departamentos enorme que vende tudo com enormes descontos. Acho que eles trabalham apenas com coleções antigas ou peças de mostruário, não sei, mas os preços são imbatíveis. Eu precisava comprar travesseiros para as crianças, fronhas e dois lençóis de solteiro. Imaginei que lá encontraria tudo que precisava a preços módicos.
Acordei às nove e meia, vi que o dia estava cinzento e frio. A temperatura nem estava tão baixa assim – por volta dos 15°C – mas o vento que vem junto, este é congelante. A sensação térmica era de uns 10 graus.

Com este cenário, fiz uma xícara de café e voltei para a cama para acabar de ler o livro que minha irmã me emprestou.  
Ao meio dia, já vestida e com a casa arrumada, decidi fazer uma visita ao TK Maxx. Tão logo sai de casa, o telefone tocou: era a Lisa me avisando que o landlord e seu “faz-tudo” iriam para a minha casa às 14h para fazer a lava-roupas funcionar. Assim, tive que desistir de meu passeio – a loja em questão fica em outra cidade, a meia hora daqui. Não ia dar tempo.
Dei meia-volta e entrei em casa.

Às 14h os dois chegaram com a novidade: “compramos uma máquina nova para você!” Claro que fiquei felicíssima com a notícia mas ainda queria ver tudo funcionando – não estava muito convencida de que o problema era a máquina. Claro que não disse nada, apenas agradeci.

A primeira coisa a fazer era tirar minhas roupas molhadas de dentro da máquina velha. Pus um balde na frente da portinha mas não adiantou muito, a água molhou a cozinha toda. Junte-se a isso os dois homens pisando aqui e ali e vocês podem ter uma visão clara da sujeira em que minha cozinha se transformou! Se a Flavy estivesse aqui certamente teríamos um duplo homicídio!

Bom, os dois homens tiraram a máquina do lugar e instalaram a nova. Fizemos um teste para ver a fofa funcionava e foi tudo bem até o ponto em que a água deveria sair e... não saia! O Paul estava lá fora e não viu a cena. O "faz-tudo", acho que já de saco cheio, abriu o armário debaixo da minha pia, desenroscou o cano que deveria levar a água para fora e deu uma soprada na boca do pvc. Na mesma hora a água começou a sair. Nós nos entreolhamos e eu sugeri que talvez o problema tinha sido uma bolha de ar que estava impedindo a passagem da água, sei lá. Ele disse que não, que tinha certeza que era a máquina velha o problema - afinal, foi ele quem convenceu o Paul a comprar uma nova! Por mim, tudo bem. Concordei e fim de papo. Neste ponto me deram outra boa notícia: esta máquina é também uma secadora! Ai que coisa boa!! Não se vive sem uma secadora aqui e eu já tinha planos de comprar uma e instalá-la em cima da minha cabeça, claro! Não há espaço aqui para mais um eletrodoméstico grande, no entanto a secadora é fundamental num país frio. Com a chegada da nova máquina, meu dilema foi resolvido!

Neste momento, 18h, a lava-roupas/secadora já foi instalada e o Paul, juntamente com seu “faz-tudo” já foram embora. Estou escrevendo este post ouvindo a máquina funcionar. Espero que, desta vez, ela complete o ciclo todo, sem sustos.

A cozinha já está limpa, seca e sem marcas sujas de pés.
O vento foi embora, o sol apareceu e o céu está azulzinho.

Um beijo a todos e bom fim de semana!

Cheers, 
Cláudia

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Sem novidades...


Por aqui, tudo na mesma, sem muitas novidades.

Hoje o dia amanheceu frio e com garoa. A previsão diz que a máxima chega a 15°C! Máxima!!
Mesmo assim não liguei o aquecedor. Quando fico no andar térreo, aí sim sinto frio porque a casa está vazia, mas como passo a maior parte do tempo no andar de cima, que é acarpetado, não sinto o ar gelado. As janelas vedadas e duplas são uma benção! Se tivéssemos estas janelas em São Paulo não passaríamos metade do frio que sentimos no inverno.

Ontem recebi uma correspondência do banco Halifax me avisando que minha proposta de abertura de conta não pôde ser analisada porque aquele tipo de conta básica não deve ser usada para “business”. Não entendi nada – eu nunca disse que faria negócios com aquela conta. Acho que preenchi alguma coisa errada que os levou a imaginar que faria mau uso do banco.

Detesto rejeição! Achei melhor, então, ir diretamente ao banco na cidade.
Encontrei uma agência do Barclays e entrei – agência minúscula, com dois caixas apenas e uma moça em pé, no meio do salão, atrás de um púlpito onde estava instalado um computador. Imaginei que ela era o equivalente da “moça Bradesco” (alguém ainda se lembra delas?), e que estava ali para prestar os primeiros esclarecimentos.

Dirigi-me até ela que, como todas as mulheres que se classificam como “executivas” por aqui, estava maquiadíssima!! Sabe quando o rosto está bronzeado de base e pó, mas o pescoço continua alvo? Pois é, assim estava a moça Bradesco!
Eu me apresentei, contei para ela a minha história de recém chegada no país e minha necessidade de abrir uma conta. Ela foi super, super gentil e pediu que eu sentasse para que ela pudesse ver o que poderia ser feito. Em cinco minutos ela me chamou e disse que para apresentar uma proposta de abertura de conta eu precisaria de um passaporte (estava na minha bolsa) e de um comprovante de residência. Eu tinha comigo os papéis da imobiliária atestando que a casa estava alugada em meu nome, mas não adiantou. O banco só aceita correspondências oficiais – contas de água, luz e gás. A moça, sempre simpática, sugeriu que eu ligasse para uma das prestadoras destes serviços e solicitasse que as contas do primeiro mês me fossem enviadas semanalmente. Assim, logo eu teria um documento para apresentar ao banco. Ela disse que me ajudaria em tudo, bastava que eu levasse os papéis necessários. Eu agradeci e ela me acompanhou até a porta.

Mais tarde, falando com a Renata, ela me sugeriu não mudar o período de cobrança das minhas contas, mas esperar a carta da prefeitura confirmando que os impostos serão enviados para cá e me explicando sobre o desconto que terei por ser “mãe solteira”. Esta carta deve chegar logo e serve como comprovante de residência. Vou aguardar.
Depois disso, ainda tenho que torcer para que minha proposta seja aceita.

Voltei para casa por volta das 15 horas,  horário de saída da escola que fica aqui na esquina. Vejam a foto aí em cima – uma graça, né? Já mandei para a Helena, que adorou  o uniforme. Ela vai ficar linda! E o Dudu, de gravata??

Cheguei em casa e resolvi lavar minhas roupas. O proprietário da casa, ou landlord (palavra horrível!), veio até aqui na terça-feira no final da tarde, acompanhado de um técnico para ver o que se passava com a máquina. Ele foi muito simpático e se ofereceu para instalar cortinas no chuveiro, o que aceitei prontamente.

Bom, o tal técnico constatou que a porta da máquina estava ruim mesmo – depois de 40 minutos mexendo e remexendo, disse que havia consertado. Eu testei e aporta fechou, mas com esforço. É preciso dar uma “bundada” na porta para ouvir o “click”. Agradeci e eles foram embora.

Ontem, quando voltei do banco,  peguei minhas roupas sujas,coloquei-as dentro da máquina e, feliz da vida, liguei a bendita. Problema novamente: não entra água na máquina! Tentei descobrir o porquê, arrastei o trambolho para ver se a mangueira estava torcida, impedindo que a água chegasse, mas nada deu certo. Fui até o quintal e vi que no lugar de onde sai o cano da máquina há uma torneira. Imaginei que aquilo fosse o registro da maquina e girei-a em sentido oposto. Ainda assim, nenhuma gota de água.

Frustrada, liguei novamente para a Lisa e pedi que ela conversasse com o landlord. Disse que ele não precisava vir até aqui, bastava me dizer como proceder porque certamente é alguma coisa boba que estou fazendo errado. Hoje já fui avisada que o bonito vai voltar com outro técnico!!  Vamos ver se agora a coisa vai!

Impossibilitada de realizar esta tarefa, decidi me dedicar a outra, ainda dentro do departamento sujeira. Fui mexer nas latas de lixo. Primeiramente, separei as garrafas, que estavam numa mesma caixa, não importando se eram de plástico ou de vidro. Coloquei cada uma no seu devido lugar. O vizinho que usou meu lixo deve ter dado uma grande festa ou então tem problema de alcoolismo, pois nunca vi tantas garrafas juntas.

Para piorar, estas caixas e cestos de lixos estão cheias de caramujo!! Ai que nojo!! Eu não encosto nestes bichos por nada nesse mundo!

Depois fui mexer no latão marrom, aquele onde coloquei as caixas de papelão. A Wanda me deu a dica de desmontar as caixas para que elas fiquem fininhas e ocupem menos espaço. Parece óbvio  mas eu não tinha pensado nisso. Cheguei à conclusão que ter pessoas fazendo as coisas por você durante anos – empregada, secretária, assistente, motorista – embota sua iniciativa.


Já o latão preto, aquele do lixo normal, permaneceu intocável. As pessoas que usaram este cesto, jogaram todo o lixo lá diretamente, sem saco plástico, e misturaram um monte de coisas inadequadas, a começar por cacos de vidro. Não há como mexer ali. É uma lata grande, cheia até a boca, de lixo solto.

Achei melhor ligar para a prefeitura e dividir com eles meu dilema: acabei de me mudar, o lixo não é meu, está tudo uma bagunça e ninguém quer recolher os cestos. A atendente foi muito compreensiva e me disse que estava anotando meu endereço para pedir ao motorista do caminhão que pegue os cestos e os esvazie na próxima semana, mesmo com a separação errada.  Eu nem acreditei que fosse tão simples. Já estava preparada para mandar para ela os comprovantes de minha mudança, atestando que era nova no local, mas nada disso foi preciso. Ela entendeu tudo na hora e, super simpática, deu uma solução ao problema. Ainda se ofereceu para me enviar o calendário de coleta de lixo pelo correio para que eu o pendure na geladeira. Fofa né? Vamos ver se vai dar certo!

Estava eu lá fora, ainda arrumando o que dava para encarar, quando de repente vejo dois carros da polícia estacionar do outro lado da rua. De dentro dos carros saíram seis policias que se encaminharam para uma casa pertinho da minha, enquanto calçavam luvas de borracha azuis. Fiquei petrificada, imaginando o que estaria se passando. Será que eles não poderiam me dar uma ajudinha com os entulhos já que estavam de luvas? Achei melhor não perguntar.

Os guardas entraram na tal casa, deixando a porta ficou aberta. Claro que eu estava morta de curiosidade e fiquei lá fora esperando pelos desdobramentos. Cinco minutos depois, dois policiais saem correndo de dentro da casa, entram no carro, e batem em disparada, com a sirene ligada! E o mais curioso: nenhum vizinho na rua para xeretar. Quer dizer, nenhum não, porque eu estava lá. Fiquei ainda desmontando as caixas de papelão e quando acabei, entrei. Estava frio. Não me matem, mas até agora não sei o que aconteceu! Será uma raposa que apareceu por lá? Segundo a Renata isso é comum! Ou será algum episódio mais sórdido? Não tenho como saber...

A Renata já me disse para não me iludir – o fato de não haver ninguém fora de casa para bisbilhotar a vida alheia não significa que os ingleses são seres mais elevados que o resto do mundo ou que não se interessam por fofocas, longe disso! De acordo com minha irmã, certamente estava todo mundo dentro de casa, atrás das cortinas, tomando nota dos acontecimentos. Eles só são mais discretos do que eu.

Agora são quase duas horas da tarde e não posso sair, porque tenho que aguardar o povo que vem, finalmente, resolver o drama da máquina de lavar.

A Renata e o Tony viajam amanhã para Paris, onde vão encontrar um casal de amigos brasileiros e passar quatro dias flanando na capital francesa – delícia, né?
Eu vou ficar por aqui, resolvendo assuntos domésticos e contando as horas para a chegada da Helena e do Dudu! Se Deus quiser, vai dar tudo certo!
Um beijo!

Cheers,
Cláudia

terça-feira, 24 de maio de 2011

Deveres Cívicos!


Ontem de manhã recebi a visita de um entregador que me trouxe vários itens domésticos comprados pela Renata: pratos, panelas, lençóis, um espelho, toalhas, colchão de inflar, edredom (vou dedicar um parágrafo a este assunto), liquidificador, batedeira, torradeira e mais outras miudezas que transformam uma casa em um lar. Thank you Renata mais uma vez!

Foi uma delícia abrir as caixas e guardar tudo no seu devido lugar!
Como acho que vocês sabem, boa parte da minha mobília está vindo do Brasil, então, apesar das novas aquisições, a casa continua vazia e fazendo eco.

Comecei a arrumação pelos colchões de inflar: um de solteiro para a Helena e outro, “king size”, para mim e para o Dudu – ele vai querer dormir comigo nos primeiros tempos então é melhor economizar e esperar a cama dele chegar do Brasil!

Levei o colchão da Helena para o quarto dela e comecei a inflá-lo: há uma bomba dentro do colchão e é preciso ficar pisando nela para que o colchão encha. Deu trabalho e acho que ainda falta encher mais.
Fiz o mesmo procedimento no meu e, depois de muito suar, achei que ele estava bem cheio – mas não estava. Aqui preciso de uma ajuda de minha mãe, que tem experiência neste tipo de colchão: ele fica mole, tipo “cama d’água” ou deve ficar firme? Tenho medo de encher demais...

Passei boa parte do dia lavando a louça nova, limpando o chão, arrumando a casa.
Mais tarde sai e fui ao Tesco, o supermercado. Comprei pouca coisa e fui dar uma volta. Tudo é bem pertinho, dá para andar a cidade toda!

Por volta das três horas voltei para casa e  resolvi lavar roupa. Quando se aluga uma casa aqui ela já vem com lavadora, geladeira e fogão. Pois bem, logo de cara percebi que a porta da máquina estava com problemas – a lavadora é daquelas com porta frontal. Eu tinha uma parecida no Brasil e sei como usá-la. 
Logo, pude rapidamente perceber que a máquina estava com defeito.

Liguei para a Renata, com esperança de que ela pudesse me ajudar – talvez houvesse algum truque para usar a máquina que eu não estava percebendo. Minha irmã estava no aeroporto, tentando ir para uma reunião de trabalho na Escócia, mas enfrentando problemas graças à fumaça do vulcão que voltou a dar notícias. Expliquei para ela meu problema doméstico e obtive a seguinte resposta: “ah? Não tenho nem idéia!! Tente achar o manual no site da LG”.

Segui seus conselhos e fui procurar socorro online. Nada feito, não achei nada que pudesse me ajudar!

Liguei para a imobiliária – para a Lisa – e avisei sobre a dificuldade com a máquina. Ela prometeu falar com o proprietário e me dar uma resposta hoje. Enquanto isso, nada de roupas limpas e cheirosas.

Hoje, terça-feira, acordei cedo e fiquei em casa. O sol está brilhando mas há um vento gelado lá fora.

Aqui o parágrafo dedicado aos edredons ingleses: não se encontra neste país um edredom como aqueles que a gente compra no Brasil. Ai que saudade dos meus...

Na Inglaterra o edredom é vendido em partes separadas – você compra o “recheio do edredom”, aquilo que faz ele ficar quentinho e depois compra a capa que quiser. Pode parecer ótimo e fácil, mas não é. Eu comprei uma capa linda e fui, animadíssima, montar o acolchoado. Acontece que a tal capa é enorme, claro, e em um dos lados menores, há uma abertura (pequena) com botões de pressão. O “recheio” deve entrar por ali, o que é uma dificuldade, porque você quer que tudo entre certinho e reto, para ocupar todos os espaços da capa. Só que como a abertura é pequena, tudo entra torto e dobrado e tem que ser endireitado depois – muito difícil. É quase uma laparoscopia! Através de um corte pequenininho você tem que resolver tudo lá dentro. Suei, bufei, xinguei e fiz o melhor que consegui. Claro que, nem de longe, ficou tão bonitinho como o meu edredom lindo, que nestas alturas, deve estar esticadinho na cama de minha mãe! Mas usei-o esta noite e funcionou.

Hoje resolvi as questões burocráticas que envolvem minha mudança por aqui! 
Quando você assina o contrato de aluguel, recebe uma série de instruções sobre quais são suas obrigações e quais os seus direitos. Entre as minhas obrigações está avisar as companhias elétrica, de água e de gás que esta casa voltou a ser ocupada e que eu sou a responsável pelos pagamentos das contas de consumo. 

Também deveria comunicar a prefeitura sobre minha mudança e sobre o envio dos impostos para cá.

Aqui entram as novidades do primeiro mundo! Eu recebi, junto com a papelada do aluguel, um certificado sobre a eficiência energética desta casa. Neste documento estão relacionados vários itens que influenciam o consumo de energia elétrica e de gás: tipo de janelas instaladas – se são vedadas e, portanto, mantém a casa quente, dispensando um maior uso do aquecimento – tipo de construção, modelo de aquecedor e termostato, existência ou não de “timer”, tipo de lâmpadas instaladas, isolamento térmico no telhado e mais um monte de outras aspectos que influenciam diretamente o "carbon footprint" do imóvel.

Pois bem, de acordo com esta análise – que achei ótima – minha casa não é muito eficiente e contribui consideravelmente com emissões de CO2. Não há nada que eu possa fazer porque não vou inventar nenhuma mudança estrutural na casa, claro, mas achei impressionante o nível de preocupação dos ingleses com o assunto. Tudo muito sofisticado!

Neste comunicado há também uma média do consumo energético da casa – em kWh/m2, por emissão de dióxido de carbono e em libras. Existe uma análise mostrando qual o potencial de redução – eles dizem que posso diminuir as contas de 1100 libras anuais para 650 libras a cada ano.

Outra preocupação ambiental diz respeito ao lixo! A prefeitura concede a cada família duas latas de lixo grandes: uma marrom e uma preta, que ficam do lado de fora da casa. A preta é para o lixo comum e a marrom é para o reciclável. Eles também distribuem duas caixas plásticas, uma azul – para garrafas de plástico – e outra verde, para papéis e vidro. Detalhe: o caminhão de lixo passa uma vez por semana em cada rua e em uma semana ele recolhe apenas lixo reciclável (lata de lixo marrom e caixas azul e verde) e na outra semana apanha somente o lixo do cesto preto. Tudo isso, segundo o site da prefeitura, para forçar as famílias a produzirem menos lixo.

Enfrento um problema com este assunto! Como o sistema é rígido, as pessoas são forçadas a diminuir o consumo, ou pelo menos a repensá-lo – até aqui tudo bem...quer dizer, tudo mais ou menos, porque eu vou ter que prestar atenção  na quantidade e na qualidade do meu consumo! O problema imediato, no entanto, é que como esta casa estava vazia, alguém na vizinhança achou por bem usar os meus cestos de lixo! Assim, está tudo cheio, sem espaço para os meus próprios entulhos (que, por conta da mudança, são muitos!).

Ontem, segunda-feira, foi o dia em que o caminhão do lixo deveria passar, então achei que tudo voltaria ao normal. À tarde percebi que meus cestos não haviam sido esvaziados e não custei a perceber o porquê. O cretino que usou minhas lixeiras, não fez a separação como deveria – ele misturou plástico com vidro, com terra, com papel. Se a separação não estiver correta, o lixeiro não leva. Vou ter que trabalhar nisso hoje – separar o lixo alheio – e aguardar até a semana que vem para ver a frente de minha casa limpa e vazia de porcarias. Gente folgada tem em qualquer parte do mundo, né?

Ainda pela manhã resolvi ligar, então, para as empresas fornecedoras de água, energia elétrica e gás para comunicar-lhes minha mudança. Também telefonei para a prefeitura.

Foi tudo muito fácil e as pessoas todas muito agradáveis - elas sempre se espantam quando digo de onde venho! "Oh, that is absolutely lovely, great!"
Apenas precisei informar o CEP de minha residência, soletrar meu nome para que conste nas próximas contas, avisar sobre a data em que me mudei e comunicar quais os números da leitura dos registros no dia da mudança – esta última informação consta de um dos relatórios que a imobiliária deixou comigo.

Já o uso e o pagamento de água aqui são diferentes do que acontece no Brasil. Minha casa não tem um registro que indique o consumo, então eu pago uma conta única, anual, independente de quanta água usar. O valor desta conta é de 219.78 libras por ano, o que não é muito. O atendente perguntou como eu gostaria de pagar: tudo de uma vez, em duas parcelas ou em dez meses. Neste último caso ele me mandaria os boletos todos pelo correio – tudo de uma vez – e eu pagaria um a cada mês.  Foi esta a minha opção.

Já na prefeitura tudo foi também bastante simples – a atendente fez as perguntas de praxe e por fim quis saber  quantos adultos morariam aqui. Respondi que apenas um adulto e duas crianças menores de 18 anos. Ela me disse então que me mandaria uma brochura com informações sobre abatimento de impostos a que tenho direito já que sou uma “single parent”. Adorei! É esperar para ver.

Bom, com meus deveres até agora cumpridos, vou encarar o lixo lá fora antes que receba uma multa!

Um beijo a todos.
Cheers,
Cláudia
eu estava no ponto de ônibus e tirei esta foto de minha casa - pertinho, né?



domingo, 22 de maio de 2011

O primeiro dia...


De repente um barulho me despertou  - eram pingos de chuva batendo no vidro da janela do meu quarto.  Ainda dormindo abri os olhos e vi que a manhã chegava escura. Olhei o relógio: cinco e meia. Voltei a dormir.

Esta casa ainda não tem cortinas - a claridade do dia e o brilho das luzes à noite são grandes obstáculos para que o sono chegue e se instale. Comprei uma máscara de dormir e é com isso que tenho me virado – ela ajuda bastante!

Quando faltavam cinco minutos para as nove horas, acordei de vez.

Tony Soprano
O dia estava mais claro agora, mas ainda cinzento.  Abri a janela do quarto e um vento frio entrou correndo na casa. Desci, preparei um café com biscoitos e voltei para a cama onde assisti ao primeiro episódio do seriado “The Sopranos”. É muito, muito bom - pai, você TEM  que assistir! Tenho mais alguns gravados no computador, mas preciso faze-los durar. A conexão de internet (temporária) que tenho aqui não me permite fazer downloads de filmes. Assim, até que a Virgin Media apareça com seus técnicos e faça o serviço, não tenho acesso a muita coisa.

Já no fim da manhã resolvi sair para comprar os produtos de limpeza, tão necessários nesta casa que não vê uma vassoura há tempos!

Vesti uma roupa quente, fiz a lista do que precisava e sai. Um solzinho fraquinho, anêmico, tentava se firmar, sem muito êxito. 

Assim que tranquei a porta, o ônibus passou e foi embora sem mim. Fui até o ponto e vi que, porque hoje é domingo, o próximo coletivo só apareceria por ali em 40 minutos. Eu podia voltar para dentro de casa e esperar, mas resolvi ir andando mesmo.

Caminhei até o centro da cidade – na minha velocidade isso quer dizer mais de trinta minutos – e percebi que, diferentemente de ontem, as ruas estavam desertas de pessoas, mas com muitos carros. O comércio estava todo fechado, porém a loja que eu precisava estava aberta e funcionando,  ainda bem.  A “Pound Strecher” (literalmente “esticador de dinheiro”) é uma daquelas lojinhas que vende um monte de tranqueiras a preços bem baixinhos.

Feliz da vida entrei e comprei um esfregão (um “mop” como eles dizem aqui), uma vassoura, uma pá de lixo, luvas de borracha, sacos de lixo, pregadores de roupa, um balde, esponja de louça (aquela com cabo que você enche de detergente) e trinta cabides. Gastei 14 libras.

Sai de lá carregada e me dirigi ao supermercado. Havia duas opções, o “Waitrose”, que é um supermercado tipo Pão de Açúcar, pequeno e arrumadinho, no entanto, um pouco mais caro, e o Tesco, a potência inglesa de ofertas.

A escolha correta seria, claro,  o Tesco, mas o problema é que o “Waitrose” era muito mais perto e eu estava carregada de sacolas. Como precisava de pouca coisa, fui ali mesmo. 

Lá comprei um desinfetante para o chão, detergente, pão, vinho, salada, tomates, um maço de cebolinhas, iogurte, azeite, sal, vinagre e queijo feta – não façam caretas pai e mãe porque eu amo este queijo na salada!

Terminadas as compras voltei para casa. O dia agora estava mais bonito com o sol mais forte.

Cheguei e já fui guardando as compras. Em seguida, recolhi toda correspondência espalhada pela casa e fiz um rápido inventário do conteúdo: um grande número de cardápios de restaurantes indianos ou pizzarias (algumas especializadas em pizzas quadradas, que horror!), cartas para a antiga moradora, panfletos políticos e, finalmente, três folhetos que me pareceram úteis:

1)     Uma instituição de caridade se oferecendo para recolher roupas e sapatos que o morador não quiser mais. Aqui na minha rua eles passam toda sexta-feira. Caso haja interesse em doar algo, basta colocar numa sacola, colar nela o folheto amarelo, e deixar tudo ao lado da porta. Ainda não tenho nada para doar, mas achei o procedimento bem fácil. Guardei o folheto para o futuro.

2)      2) Dois cupons com 25% de desconto na compra de ingressos para o zoológico. Vou guardar para ir com as crianças.

3) Um guia de como cuidar do jardim. Eu tenho um quintal grande aqui e não sei por onde começar. Espero que este folheto me ajude.

Guardei o que me interessava e varri o chão. Depois passei o esfregão com o desinfetante. A casa ficou com outra cara – ainda vazia, mas limpa.

Estava envolvida nesta atividade exasperante que é a faxina, quando ouvi um barulho na porta do fundo:  duas portas de vidro que enganaram um pobre passarinho! O coitadinho veio voando, não percebeu a barreira invisível, se espatifou e morreu. O corpo está até agora lá fora porque não tenho coragem de mexer.

Em seguida subi e pendurei minhas roupas – ai que delícia ver as malas vazias! Usei os 30 cabides, mas valeu a pena!

Por volta das quatro horas a fome chegou. Preparei uma salada de espinafre com tomates, cebolinhas e feta, que comi acompanhada de pão de alho quentinho. Para acompanhar uma taça de vinho – na realidade, uma xícara, já que ainda não há taças por aqui.

Agora são sete e meia e o sol está firme lá fora, apesar da temperatura não estar muito alta.
Por aqui está tudo bem, tudo tranqüilo, graças a Deus!

Cheers,
Cláudia


sábado, 21 de maio de 2011

Hertford!

Hoje vou dormir em minha casa inglesa pela primeira vez!

Acordei às cinco e meia da manhã, ansiosa, tentando adivinhar que horas seriam e se eu estava atrasada para a mudança. As horas voam e minha casa fica em outra cidade, portanto sabia que não havia tempo a perder. Também ainda não tinha acabado de arrumar minhas coisas!

Abri os olhos, tateei a mesinha de cabeceira em busca de meu celular e constatei que ainda era bastante cedo. Mesmo assim o sono já tinha ido embora, e não me parecia que voltaria logo.
Desci as escadas, tentando adivinhar quais as tábuas que rangiam menos, evitando assim  acordar a Renata e o Tony.

Fui até a cozinha e preparei uma xícara de café com dois biscoitos amanteigados e voltei para a cama, onde fiquei saboreando aquelas delícias por um tempo.

Em seguida terminei de arrumar minhas coisas e fiquei esperando o casal se levantar. Eu  precisava que o Tony me emprestasse uma mala, já que não estava considerando levar aquela com a rodinha quebrada – o horror que tanto problema me causou na viagem do Brasil para cá!


Minha irmã logo apareceu em meu quarto com uma idéia: “vamos de táxi para Hertford, eu, você e o Tony! Custa 80 pounds, mas a gente divide por três. Sai um pouco mais caro que  de trem (13 pounds/pessoa), mas viajamos com mais conforto e poderemos levar um monte de tranqueira para a sua casa.”

Achei a idéia ótima! Realmente custaria  mais e a Renata e o Tony foram muito gentis em sugerir esta mordomia .

Com este novo arranjo eu não precisaria trocar de mala – literalmente uma “mala sem alça”, ou pior, uma “mala sem rodinha”.

Já disse aqui que a casa nova está vazia – minha querida irmã comprou alguns artigos de primeira necessidade, mas eles só chegam na segunda-feira. Eu queria dormir na casa nova já hoje, então o jeito que encontramos foi trazer algumas coisas da casa da Renata para cá. Como estávamos vindo de carro – um carro grande, uma Zafira – sabíamos que daria para trazer bastante coisa.

O Tony então me aparece com uma cama de campanha – a cama em que meu filho Pedro dormiu quando passou um mês em Londres – uma cama dobrável, mas assim mesmo grande. Depois um enorme saco plástico com dois travesseiros e um edredom. Os lençóis e as toalhas já estavam na mala! A Renata ainda separou pratos, talheres, tigelinhas, panelas, copos e canecas em caixas de papelão. Fora isso, duas malas grandes, uma mala de mão, a bolsa de meu computador! Ah, claro, e nós três!

O motorista do carro chegou –um rapaz simpaticíssimo de Gana – e nos ajudou a acomodar toda a tralha no porta malas do carro. Às onze e quarenta estávamos partindo! O dia estava lindo, ensolarado, as ruas e parques cheios de gente branquíssima tentando pegar uma cor. Despedi-me de Londres – na realidade um “até logo”, porque sei que virei para cá muitas vezes, afinal estamos muito perto!

No trajeto passamos pelos dois novos estádios olímpicos – lindos!
O motorista do táxi admitiu que não ligava muito para os jogos Olímpicos, sua verdadeira paixão era a Copa do Mundo, e seus times do coração eram Gana e Brasil! Na mesma hora fiquei emocionada!

Chegamos em Hertford um pouco antes da uma hora da tarde e fomos direto para a imobiliária. Pegamos as chaves com a Lisa juntamente com uma papelada que preciso assinar e levar para ela na segunda-feira.

Eu estava ainda preocupada com a limpeza da casa – apesar de recém pintada e reformada, a casa havia permanecido muito tempo fechada e a sujeira tinha se acumulado. Também havia dezenas de folhetos jogados no chão – as portas das casas têm uma janelinha vai-e-vem por onde o carteiro joga a correspondência. Durante a semana eu havia conversado com a Lisa e ela me garantiu que o proprietário limparia tudo, inclusive o quintal, e me entregaria a casa em perfeitas condições. 

Hoje, ao pegar as chaves com ela, repeti  a ladainha da limpeza, ao que ela respondeu: “eu falei com o proprietário durante a semana. Se tiver qualquer problema, me ligue”. Agradeci e voltamos para o carro.

Em cinco minutos chegamos em minha casa. Descarregamos as malas, caixas e cama, pagamos o motorista e abrimos a porta para nos deparar com a sujeira de sempre: pó, muito pó, e folhetos espalhados! Ai que ódio! Eu queria tanto chegar e já arrumar meus poucos pertences, mas não poderia guardar nada nos móveis empoeirados!

Minha irmã ligou para a Lisa na mesma hora e ela garantiu que, a título de compensação, nos daria um abatimento de 25 pounds no próximo aluguel. A Renata, conhecendo a irmã que tem, já argumentou que o mínimo desconto aceitável seria de 50 pounds! Ela tem razão, limpar toda a casa por 25 pounds? Nem morta!! 

E assim foi feito, aceitei a casa suja mesmo  - poeira, basicamente – e amanhã saio para comprar os produtos de limpeza e dar um jeito no novo lar! Graças a Deus as paredes estão recém pintadas e o carpetes são novos, claros e limpíssimos – carpetes sujos são deprimentes, não são?

O Tony gostou da casa – “it’s lovely, Claudia”- e ficamos por aqui examinando tudo. A Renata me ensinou a mexer no aquecedor, que por enquanto ficará desligado, já que os dias estão quentes e agradáveis. Depois de uns 45 minutos por aqui, decidimos sair para almoçar. Há um ponto de ônibus quase na frente de minha casa, mas a Renata e o Tony tem uma obsessão por andar a pé e nem cogitaram usar um meio de transporte motorizado até o centro da cidade.

Assim, saímos, andamos, andamos, andamos, e confesso que foi muito gostoso. A cidade é uma graça, as pessoas estavam todas nas ruas, caminhando, andando de bicicleta ou passeando de carros conversíveis! Pergunta: quem compra um carro conversível na Inglaterra? Encontramos também muitas crianças, muitos bebês, muita gente com cachorro. Uma delícia andar em Hertford sabendo que não vou precisar pegar o trem depois para ir embora. Eu moro aqui agora!!

Depois de muito andar, achamos um restaurante pequenininho, bem charmoso e entramos.  Sentamos  ao lado da janela e  ficamos observando o movimento das ruas!

Pedimos uma garrafa de vinho branco geladinho – e depois pedimos mais outra! Eu escolhi uma bruschetta de tomate com rúcula que estava bem gostosa e, depois, um “schnitzel” de carne de porco com alecrim acompanhado de purê de batatas. Tudo uma delícia!

Depois da comilança, saímos para andar pela cidade novamente. Passamos em uma lojinha de telefones para comprar um pen-drive que me desse acesso à Internet (a Virgin já confirmou que virá instalar tudo no dia 3/06), depois passamos no supermercado para comprar só o essencial para passar a noite: entre os essenciais,  um CIF banheiro para dar uma esfregada na banheira e poder tomar uma chuveirada, leite, café e biscoito. Amanhã vou comprar os produtos necessários para a faxina que irá acontecer nesta casa. Só amanhã, hoje nem pensar.

Depois das compras, andamos, andamos e andamos novamente! Andamos tanto que esperava encontrar, a qualquer momento, uma plaquinha anunciando: "Bem Vindos à Bélgica!". 

Finalmente chegamos na estação de trem e despedi-me de minha irmã querida que tanto me ajudou - muito mais até do que poderia! Ficarei eternamente grata e jamais esquecerei o que ela fez por mim! Obrigada Renata, do fundo do meu coração!

E assim, cá estou eu! São oito horas da noite, o sol está brilhando lá fora, escuto passarinhos – que adoro!! – e da janela do meu quarto vejo um montão de árvores com as copas balançando e fazendo um barulhinho gostoso de folhas roçando umas nas outras.

Estou mais feliz do que consigo expressar – felicidade  que estará completa daqui a nove dias, quando meus amados filhos chegam. Esta espera é difícil, tenho muitas saudades dos três! Ainda bem que falta pouco!
Um beijo a todos e obrigada pela torcida!

Cheers,
Cláudia