O pão nosso de cada dia

sábado, 30 de abril de 2011

Pizza!



No sábado a Inglaterra acordou "de ressaca"!
Depois das comemorações de ontem, parece que todo mundo resolveu ficar em casa o dia inteiro, descansando. Pela manhã as ruas estavam silenciosas, poucos carros passavam e o sol apareceu trazendo um calorzinho preguiçoso...

Acordei às 9h, encontrei o Tony na sala, trabalhando no computador. A Renata despertou 15 minutos depois. Ficamos os três por aqui, depois fomos até o quintal tomar café no sol.

Passei a manhã procurando casas e enviando CVs. Falei com dois corretores, que tinham duas casas para me mostrar. Eles me mandaram fotos das propriedades, mas não gostei de nenhuma - todas mal conservadas por dentro. Os corretores me disseram que vão continuar procurando. Preciso achar uma casa logo...

Por volta das 15h a Renata e o Tony sugeriram que a gente saísse para comer alguma coisa. A idéia deles era   que eu experimentasse "a melhor pizza de Londres" - um pequeno restaurante aberto há dois anos por um italiano e sua família, num bairro popular. Os dois fizeram tanta propaganda que concordei em ir.

Saimos mas, antes de ir para a pizzaria, que aliás, se chama Franco Manca, fomos caminhando até uma loja de tecidos aqui perto. O Tony está envolvido em alguma invenção que ainda não entendi direito e precisava passar na tal loja. Andamos uns vinte minutos até chegar lá.

Antes de seguir, preciso dizer que meus pés têm sofrido muito aqui em Londres! Tenho submetido meus pobres pezinhos a uma rotina muito diferente daquela a que estão acostumados. Sempre tive carro em São Paulo, nunca precisei andar - meu maior percurso era andar do cinema do shopping até o estacionamento  - trajeto curto, velocidade lenta (íssima) e chão liso. Assim, meus pés têm a pele fina e qualquer coisa os machuca. Claro que quando ando por aqui, só calço sapatilhas e chinelinhos - tudo que sempre usei no Brasil e que só me traziam conforto. Pois bem, os mesmos sapatinhos aqui têm se provado verdadeiras torturas chinesas. Não sei mais o que fazer. Meus pés estão sempre doloridos e com bolhas. Tênis são um opção, mas como está calor e quase sempre opto por vestidos, acabo calçando sapatos mais delicados. Minha irmã disse que com o tempo o pé acostuma (significa que os pés engrossam!). Vamos ver...

Pois bem, depois de 20 minutos de caminhada, meus pés já estavam reclamando muito!! Fomos até a loja de tecidos, o Tony comprou o que precisava e pegamos um ônibus para  Brixton, onde fica a pizzaria Franco Manca.

Entrei no ônibus e dei três libras ao motorista para pagar minha passagem, que custa 2 libras e 20 centavos. Fiquei esperando o troco de 80 centavos, mas o motorista nem tocou nas minhas moedas. Ele me olhou, muito mal humorado e me disse que não tinha troco - 80 centavos!! Eu sugeri que ele ficasse com as moedas e que me desse o troco depois, já que o caminho até Brixton é longo. Ele respondeu que não e que eu deveria sair do ônibus e trocar o dinheiro. Claro que não arredei pé dali - nem morta que eu ia perder aquele ônibus. Meus pés clamavam por um descanso!  A Renata veio em meu socorro e me deu 20 centavos para pagar o bilhete. Diferente do Brasil, né?

Finalmente chegamos em Brixton, descemos do ônibus e caminhamos até a Franco Manca. O lugar fica dentro de uma galeria popular, perto de uma peixaria (o cheiro às vezes "invade" a pizza) e um restaurante brasileiro, o "Feijão do Luís". É um lugar simples mas bem charmoso. Os garçons são italianos e falam inglês com sotaque. O cardápio é enxuto, apenas seis diferentes tipos de pizza. O dono,um napolitano, não admite recheios extravagantes - concordo plenamente com ele! Vejam o cardápio no final do post.

Pedimos três pizzas - elas são individuais, claro - e uma garrafa de vinho. Como boa paulistana, não estava botando muita fé nesta história de "a melhor pizza de Londres" - quer dizer, poderia até ser a melhor daqui, mas o que isso realmente garante? Pizza boa é a pizza da Esperança, em São Paulo.

As pizzas chegaram e pela aparência fiquei otimista (olha a foto aí do lado)! A massa era muito boa, finíssima e delicada! Fácil de digerir. A muzzarela, excelente e na medida certa, sem exageros. O molho de tomate, abundante. Uma delícia! Comparável à da Esperança sim! Fiquei bem contente!

Eu comi quase tudo, menos um pedaço e as "bordas". O Tony comeu a dele e depois atacou a minha. Ele comia e gemia! Meu cunhado estava feliz, muito feliz! Ele regava as bordas da pizza com um azeite misturado com alho e comia e se regalava!

Terminado o almoço, voltamos para casa. Chegamos aqui por volta das 19h.
Agora são 21h50. A Renata e o Tony estão vendo um seriado policial francês na TV e eu estou escrevendo este post.

E assim passamos o sábado!

Cheers,
Cláudia



O Casamento Real!


Obs.: todas as fotos deste post são imagens do casamento real!

O casamento foi lindo, a noiva estava deslumbrante, o noivo apaixonado, os convidados alinhadíssimos (a não ser pelas filhas de Sarah Ferguson, a duquesa de York, e do príncipe Andrew, tio do noivo), a rainha parecia feliz em seu traje amarelo canário, e os ingleses estavam em êxtase!

A sexta-feira começou cedo - às 6h30 com a chegada dos cabeleireiros em The Goring Hotel, onde a noiva e sua família se hospedaram na véspera do casamento e em igual horário aqui, em Catford, na casa de minha irmã, por conta da ansiedade da Renata com o evento.

Às 8h00 eu acordei com um barulho de panelas batendo e um clima de agitação na casa. Levantei-me e percebi que o Tony ainda dormia, bem como os dois gatos. A única pessoa responsável por toda a confusão era minha irmã que, àquela hora, já tinha feito duas tortas de legumes, um ceviche e agora começava a trabalhar num molho pesto - tudo para que os comes e bebes ficassem prontos antes do início do casamento.  Minha irmã já tinha anunciado que, uma vez iniciada a cerimônia,  não se levantaria mais do sofá!

Eu fui para a frente da TV com um xícara de café e uma torrada e comecei  a me deixar envolver pelo clima de total excitação que tomou conta do país - imprensa, populares, políticos da situação e da oposição, membros do partido Trabalhista e do partido Conservador,todo mundo com um sorriso no rosto e desejando toda a felicidade do mundo para o lindo casal. Mas, realmente, quem resiste à idéia de um conto de fadas?

Enquanto isso, a Renata permanecia concentrada em suas atividades culinárias, não sem antes me alertar: "me avise se qualquer coisa importante acontecer, que eu venho correndo". A primeira "coisa importante" que identifiquei foi a chegada do casal Beckham - uma unanimidade por aqui, todo mundo ama David and Victoria! Os dois estavam muito elegantes, tenho que admitir.

Voltando aos preparativos aqui de casa, minha irmã e seu vizinho Vale vinham organizando há semanas o menu e a logística do grande dia. O Vale é espanhol e suas irmãs estão aqui para visita-lo. Assim, ficou acertado que a Renata cozinharia vários pratos e o Vale prepararia outros. As duas famílias se encontrariam aqui para tomar umas bebidinhas e depois cada um voltaria para a sua casa, levando uma mistura de pratos espanhóis e italianos. Por isso, minha irmã estava cozinhando desde às 6h30 da manhã para conseguir deixar tudo pronto no tempo certo.

Às 10h20, outro "momento importante": a mãe da noiva sai do hotel e entra no carro que a levaria até Westminster Abbey. Linda, magra e elegante. Renata entra correndo na sala, limpando as mãos no avental!

10h30: o príncipe Charles deixa Clarence House, sua residência, e, acompanhado da Duquesa da Cornualha,   Camilla, segue para a Abadia. Achei o príncipe Charles bastante envelhecido. Sua segunda mulher caminhava ao lado dele, com seu andar pesado, cintura larga e beleza equina. A história deste casal não tem nada de conto de fadas!

10h40: a Rainha e seu marido saem do Palácio de Buckingham, entram no carro e é possível ver a idosa senhora sentada no banco de trás, com um cobertor azul esquentando as pernas. Achei aquela cena tão singela - a Rainha tem frio nas pernas e segue para a Abadia com uma mantinha no colo...

10h51: a linda Kate deixa o hotel e entra no carro acompanhada de seu pai. Nesta hora o pais pára! Todo mundo querendo ver o vestido que, até então, era mantido em absoluto sigilo. Ninguém sabia sequer o nome do estilista responsável! A Renata e eu estávamos sentadas lado a lado e não paramos de falar um minuto - adoramos o vestido, os cabelos, o véu e a tiara!! Deste momento em diante não saímos mais dali - assistimos à cerimônia inteira, trocando suspiros. Ao meio-dia e quinze Kate e William estavam casados.

E assim a manhã caminhava...

Acabada a cerimônia, tínhamos que aguardar até às 13h25 para que o casal aparecesse no terraço do palácio de Buckingham. Foi nesta hora que achamos que poderíamos chamar o Vale e sua família para trocarmos os pratos e brindarmos às bodas reais.

A Renata pega o telefone, liga para casa de seu amigo e fica sabendo que eles resolveram almoçar e deixaram a troca de pratos para o final do dia, por volta das 18h!! Quem conhece minha irmã sabe que ela é uma pessoa brava...muito brava! Ela ficou indignada com a mudança de planos -com toda razão, já que havia levantado muito cedo para preparar tudo. Também havia cozinhado uma enorme comida, achando que teria que alimentar muita gente! A Renata bateu o telefone e foi para a cozinha, batendo também os pés! Eu e o Tony nos olhávamos sem saber o que dizer, mas fomos atrás dela. Ela estava transtornada com a falta de respeito! Mais ainda, ela achava que aquilo havia sido uma manobra do namorado do Vale, uma pessoa não muito querida e sempre maquiavélica! Isso a estava deixando furiosa. Eu sugeri ao Tony que fosse buscar o Bartender Bible - uns coquetéis poderiam ajudar! Ela começou a arrumar a cozinha, batendo louça, batendo panela, até que de repente ela disse: "sabe o que eu vou fazer? Eu vou lá agora e vou levar o que cozinhei para eles!". Nós tentamos argumentar com ela, dizendo que se arrependeria de fazer qualquer coisa de cabeça quente, principalmente em relação ao Vale, de quem ela é muito amiga! Não teve jeito! Ela pegou uma bandeja, colocou umas travessas em cima e saiu tempestuosamente em direção à casa do vizinho!

Eu e o Tony ficamos, mas sugeri a meu cunhado que começasse a preparar os coquetéis imediatamente!

Duas coisas devem ser mencionadas aqui: primeiro, minha irmã estava coberta de razão e, segundo, eu sou a última pessoa que pode dar conselhos a alguém para não agir de forma impulsiva. Quando fico com raiva, fico cega e, não raro, me arrependo - talvez a experiência me credencie sim a dar estes conselhos, mas sei que no momento da explosão a gente não ouve nada!

Em menos de cinco minutos minha irmã estava de volta, com a bandeja vazia. Ela disse que as pessoas ficaram meio desconcertadas com o fato de ela ter levado os pratos  e que insistiram para que ela almoçasse por lá. A Renata disse que não ficaria e que estava levando aquelas iguarias porque seria impossível o encontro às 18h. Ela estava cansadíssima por ter levantado tão cedo e iria relaxar o resto do dia. Claro que ela falou com educação, mas é evidente que todo mundo percebeu o desconforto que a mudança de planos provocou. Minha irmã é transparente e dá para dizer quando ela está com raiva!

Bem, ela chegou em casa aliviada pelo "desabafo simbólico" e na mesma hora já foram servidos os coquetéis - gim tônica, com pouca tônica e muito gim! Sentamos para comer - ainda queríamos ver o primeiro beijo dos recém-casados na varando do Palácio.

Outro comentário aqui: minha irmã, exatamente como minha mãe, tem os seus rompantes de raiva, dá os seus chiliques, mas dez minutos depois parece que nada aconteceu. Basta um gesto de boa vontade da outra parte. E foi exatamente isso que o que ocorreu.

Estávamos comendo quando a campainha tocou. Era o Vale, com cara de cachorro que fez xixi no tapete,  trazendo os pratos que ele havia cozinhado. Ele deixou tudo aqui, pediu mil desculpas para a Renata e foi embora, ainda com um sorriso amarelo. Aí começa o comportamento "bipolar" da Renata - toda a raiva esquecida, ela começa a se culpar: "ai coitado, você viu a cara dele? Tenho certeza de que a mudança de planos não foi idéia dele! Coitado!"

Eu e o Tony nos entreolhamos e pronto..o climão já havia passado!

Acabamos de almoçar - tudo estava uma delícia! - e voltamos para o sofá a tempo de ver o primeiro e o segundo beijo real. Bem nesta hora, quando toda a família real e a família da noiva estava reunida, acenando para a população, chega um mensagem no celular da Renata. Mensagem vinda do Bill, da Austrália: "What a moment for the Middletons!" Caímos na gargalhada! Importante dizer que meu tio e minha irmã passaram boa parte da manhã trocando mensagens com impressões sobre a cerimônia!

O resto da tarde passamos em frente da TV, ouvindo comentários, análises de todos os aspectos do casamento, vendo festas nas ruas, gente feliz! É exatamente o mesmo clima de alegria, orgulho nacional e otimismo que nos acomete quando o Brasil ganha a Copa do Mundo. Parece que tudo vai dar certo! E só os cínicos criticam este estado de total felicidade, mesmo que temporária.

E assim foi.
Ah, e no meio da multidão, uma pessoa ilustrou aquilo que todos, todos comentavam: "que pena que a princesa Diana não está aqui para ver! Se estivesse, estaria linda, roubaria a cena". Vejam foto desta pessoa abaixo!






quarta-feira, 27 de abril de 2011

Começando do zero!


Estou em Londres para construir uma vida nova para mim e para meus filhos. Lindas palavras, né? Pois é, mas quando é hora de por a mão na massa para "construir" a tal vida nova...aí é uma trabalheira...

Meu primeiro passo foi procurar uma casa para alugar. Já havia decidido que não iria morar em Londres, onde os preços são estratosféricos e os espaços exíguos. Assim, comecei a procurar por casas nos condados vizinhos - pequenas cidades que ficam a uma hora de Londres, de trem. Muita gente que mora lá vem a Londres para trabalhar. Este é o meu plano.

No entanto, outra dúvida me consome: onde meus filhos vão estudar? Eles sempre estudaram em uma das melhores escolas do país e não quero que eles sofram com a mudança. Comecei a pesquisar e descobri que existe um órgão do governo - de fato, é um órgão de sua majestade (eu adoro dizer isso! adoro dizer "de sua majestade!! Me sinto num conto de fadas!!) - que investiga e regulamenta as escola inglesas, o Ofsted: Office for Standards in Education, Children's Service and Skills. O Ofsted publica relatórios sobre as escolas e os divulga em seu site. Assim fica mais fácil escolher uma instituição de ensino.

Meu próximo passo foi juntar as duas coisas: uma cidade que tenha um boa casa com escolas boas na vizinhança. Não é fácil combinar estas duas variáveis!.

Graças a Deus as coisas na Inglaterra são feitas para ajudar o cidadão e não para complicar mais ainda sua vida. Explico: nos sites das imobiliárias, além de fotos das propriedades, há todo o tipo de informação relevante. Dêem uma olhada nas ilustrações abaixo:
O desenho da esquerda mostra o mapa da vizinhança de uma determinada casa (indicada com uma casinha verde). As bolinhas amarelas são as escolas primárias, as bolinhas azuis são as escolas para crianças acima de onze anos. A figura à direita mostra o mesmo mapa, mas com as informações sobre uma das escolas: nome, endereço, distância da casa, link para o relatório do Ofsted e mais outras duas avaliações sobre a escola. Não é o máximo? É sim, só que juntar todas estas variáveis dá um trabalhão - é quase um exercício de análise combinatória das aulas de Probabilidade e Estatística. Agora lamento nunca ter prestado atenção nesta matéria...

Achei que o melhor a fazer seria dividir a tarefa gigante em tarefinhas menores. Assim, foquei no que para mim é mais importante: a escola. Ontem passei a tarde pesquisando quais eram as melhores instituições de ensino público localizadas nas cidades que me interessavam (segundo o Ofsted, escolas que foram classificadas como "outstanding"). Selecionei algumas e enviei email a elas perguntando sobre admissão de alunos novos. Estou aguardando as respostas para ter uma idéia de quais escolas aceitariam meus filhos e, aí sim, poder alugar uma casa próxima.

Uma curiosidade: todas as escolas que pesquisei tem um número grande de alunos que não falam inglês por conta dos pais que imigraram há pouco para o Reino Unido (principalmente vindos do leste europeu). Este é inclusive um item do Ofsted - média de alunos que tem o inglês como segunda língua ou alunos que não falam o idioma. Li que os colégios aprenderam como lidar com estas crianças até que se tornem fluentes. O fato de haver muitas delas me deixou mais tranquila, já que meus filhos não se sentirão como "aliens".

Claro que, além de achar um lugar para morar e um colégio para meus queridos filhos, também estou procurando emprego. Já mandei CVs e me candidatei a uns empregos temporários e de meio período para fazer traduções para o Português. Imagino que para estes primeiros meses de adaptação das crianças um emprego assim seria o mais indicado, porque me permitiria ficar mais tempo perto deles. Enfim, vamos ver o que aparece.

Por hoje é isso, Torçam e rezem para que tudo dê certo.

Cheers from sunny London,
Cláudia


segunda-feira, 25 de abril de 2011

Aqui o feriado ainda não acabou...


Ainda é feriado em Londres. Apesar disso, o Tony foi trabalhar esta manhã - não muito cedo - e estará de volta às 15h. Nós vamos encontrá-lo num pub pertinho daqui.

Tomamos o café da manhã, a Renata e eu, e ficamos conversando, "zapeando" a TV. Aqui preciso revelar  o único assunto do momento, a obsessão nacional: The Royal Wedding!!
Não se fala em outro assunto e todos os canais de TV estão ocupados em descobrir indiscrições da família da noiva, detalhes do bolo e do vestido do casamento, minúcias sobre o namoro e o noivado de William & Kate. Os hotéis estão mais caros e há pessoas alugando os quartos de casa para aqueles que vêm a Londres assistir (de longe) às bodas. O clima aqui é igual ao do Brasil durante a copa do mundo - quando o assunto se esgota, entram as reprises, os debates, os comentaristas, os especialistas, as análises.

Hoje irá ao ar um programa com um nome bizarro: "Will and Kate's wedding survival guide" - não sei do que se trata, mas dá para perceber que há de tudo na TV! Confesso que tenho gostado deste lado provinciano da metrópole! Na sexta-feira o país pára - ninguém trabalha, bancos e comércio fechados. Vamos assistir a tudo desde cedo - as garrafas de vinho já foram compradas!

O único que não se empolga com o assunto e que, pelo contrário, faz cara de puro tédio sempre que o tema surge é meu cunhado, Tony! Acredito que talvez a cerimônia de casamento real não seja um assunto de interesse masculino.

Um pouco antes de sairmos de casa para encontrar o Tony no pub, ligamos para meus pais no Brasil. Tudo bem por lá, mas já estou com saudades. Torço para que eles venham logo! 

Às 14h30 fomos para a estação de trem. O dia estava deslumbrante - sol, temperatura super agradável, céu azulíssimo, todo mundo feliz nas ruas e nos parques! Também, devo dizer, um festival de pernas branquíssimas nas ruas e nos parques!

O trajeto até o pub era bem simples e rápido, iríamos de uma estação para a seguinte. Bem fácil! Pois bem, acontece que minha irmã nos indicou  o trem errado - assim, o que era para ser um viagem curta, acabou se tornando um bate-perna de vinte minutos mais  um corrida de táxi! 

Ainda assim chegamos ao pub antes do Tony. O lugar era simples, com mesas e cadeiras de madeira escura, paredes mal pintadas e um quintalzinho simpático onde as pessoas se reuniam para fumar. Ficamos por ali, tomando vinho e experimentando umas comidinhas por boa parte da tarde. Fiquei examinando o recinto e não pude deixar de pensar nas melhorias que faria por ali - desde uma boa arrumação, vasos com flores, passando por embutir a fiação, até  uma boa pintura! Também reformaria os móveis, que eram bons mas pesados e mal cuidados. No entanto, este tipo de coisa não incomoda a maioria dos ingleses. Talvez seja esta a graça dos pubs (não para mim): um lugar mal arrumado, como uma garagem, para se encontrar os amigos e beber. Eu gostei do lugar, mas certamente faria uma grande reforma ali. Enfim, uma questão de cultura. 

Deixamos o pub e fomos diretamente para uma lojinha de vinhos ao lado, pertencente aos mesmos donos. Minha irmã e seu marido queriam levar algumas garrafas variadas para casa. A loja era pequena - como quase todos os estabelecimentos comerciais londrinos - mas estava abarrotada de vinhos de todos os cantos do mundo. Estava ali examinando os rótulos - não entendo nada de vinho mas adoro saboreá-los - quando me deparei com uma prateleira de vinhos chilenos. Logo ao lado encontrei os argentinos e, dentre eles, um rótulo que adoro: Catena (aqui se pronuncia Catina). Já tomei  vinhos desta vinícola e sei que são maravilhosos. No Brasil eles são relativamente caros: há garrafas custando 60 reais, mas há outras como o Angélica Zapata, custando 100. No entanto, confesso que são bebidas deliciosas!

Pois bem, na lojinha de vinhos encontrei o Catena Chardonnay. Vinhos brancos não são os meus favoritos, mas fiquei empolgada por encontrar esta marca argentina em terras tão distantes. Perguntei o preço, sabendo que não seria barato. Assim, fiquei surpresa ao ouvir da simpática senhora no balcão: great wine! 11 pounds! - eu não acreditei! Este vinho custa 30 reais  na Inglaterra e 60 reais no Brasil? Como assim? A senhora que estava me atendendo percebeu meu olhar de espanto e foi logo explicando: "eu sei que está caro mas é que o governo acabou de aumentar os impostos sobre bebibas. Agora eu pago 20% em cima dos impostos de importação. Ou seja, fica impossível trabalhar!" A pobre mulher interpretou meus olhos arregalados como sendo de susto pelo preço. De fato eram de susto, mas pelo preço acessível. Como dá para entender? Nós não temos algum tipo de acordo entre os países do Mercosul que nos isenta de impostos de importação, ou pelo menos diminui as alíquotas? Alguém pode me explicar porque uma garrafa de vinho argentino aqui custa metade do que pagaria no Brasil? Vou pensar nisso quando abrir o Catena Chardonnay que comprei ontem...

Chegamos em casa e assistimos a um documentário impressionante: Filthy Cities (cidades imundas)! -pai, acho que você já havia comentado sobre este programa, certo? Durante uma hora o apresentador nos conta (e simula) como era a cidade de Paris durante a Idade Média. Segundo o que aprendi, Paris era a cidade mais suja e mais insalubre do mundo! Dá para acreditar? A situação começou a melhorar graças ao imperador Luis Napoleão, sobrinho de Napoleão Bonaparte, responsável pela higienização da cidade e limpeza dos rios. O documentário foi transmitido pela BBC, que distribuiu pela cidade uns cartões ("Scracth and Sniff") do tamanho de cartões postais  onde se vê quatro círculos numerados. A medida que o programa avançava e nos brindava com imagens lindas de excrementos sendo jogados no rio, pústulas de sarampo e os corredores do Palácio de Versalhes sendo usados como latrina, um número aparecia na tela, indicando qual dos círculos do cartão deveríamos raspar para sentir o cheiro relacionado ao tema - tecnologia semelhante à encontrada em revistas de moda em que a leitora é convidada a esfregar o pulso em uma determinada área da página e assim conhecer a nova fragrância Dior, Stella McCartney, Marc Jacobs, etc. 

O Tony estava maravilhado com a nojeira na tela e nas narinas. Eu me deixei levar pelo entusiasmo da novidade uma única vez - aproximei meu nariz do círculo número um e quase passei mal! Dali prá frente assisti a tudo sem chegar perto do tal cartão - o Tony ria que não se aguentava! Interessante como ele não dá bola para a cerimônia de casamento onde tudo será lindo e perfumado, mas se encanta com um cartão nojento que exala aromas indescritíveis! Homens e mulheres são realmente diferentes...Mesmo assim admito: o programa é imperdível! 

Para quem quiser assistir, aí vai o link da BBC com o video Filthy Cities: Revolutionary Paris - http://www.bbc.co.uk/iplayer/episode/b010fhhk/Filthy_Cities_Revolutionary_Paris/

Ficamos em casa fazendo nada até às 23h, quando resolvemos ir dormir.
Fui para cama, falei um pouquinho com a Lelê pelo Skype, e encerrei o dia. Amanhã tem mais...

Cheers,
Cláudia







domingo, 24 de abril de 2011

Happy Easter!


Acordei às 10h30 e encontrei a casa ainda dormido. A Renata continua gripada e com uma tosse medonha - tosse que escutamos noite adentro! Poucos minutos depois ouvi uma movimentação no corredor e deduzi que o casal também despertava.

Descemos, recebemos os ovos de páscoa - eu ganhei um lindo coelho de chocolate, todo dourado - e preparamos o café da manhã. Ficamos na sala um tempão, o Tony com sua caneca de chá tentando ver e ouvir os melhores lances dos jogos de futebol de ontem, a Renata e eu conversando, lembrando nossas aulas de alemão e rindo muito.

Às 13h os dois saíram para comprar alguns ingredientes para o almoço. Eu fiquei por aqui e me sentei no quintal para tomar um pouco de sol junto com o gato Johnny - gato grande, preto e bem peludo que gosta de se deitar dentro de um vaso e torrar ao sol!

Um pouco depois voltei para dentro de casa, liguei a TV e constatei que um dos meus filmes preferidos estava começando: Mary Poppins!! Amo este filme e nunca consegui que meus filhos - ou ninguém - entendessem minha empolgação com a história! Gosto de tudo neste filme, especialmente da maravilhosa trilha sonora!

Passamos a  tarde toda em frente à televisão, assistindo a jogos de futebol, seriados antigos, documentários sobre o casamento real, sobre  família da noiva e, claro, palpitando sobre tudo!

Por volta das 19h, a Renata - que continua abatida com uma gripe forte e uma tosse sofrida - decidiu que era hora de comermos alguma coisa. Tínhamos passado o dia a base de pedacinhos de queijos e frutas. Minha irmã percebeu que estávamos sem leite e sem azeite - assim, sai para comprar estes dois produtos numa lojinha a dois quarteirões daqui.

Tenho que confessar que ainda preciso que me acostumar a certos comportamentos civilizados inéditos para mim! Fui comprar o que estava faltando na cozinha e quando tive que atravessar a rua fiquei parada na calçada, em frente à faixa de pedestre, esperando que os carros passassem para que eu pudesse seguir. Não havia nenhum semáforo então pretendia fazer o que sempre fiz no Brasil: esperar até que não houvesse nenhum carro na rua. Pois é, não precisei. Assim que parei junto à faixa de pedestre os carros que se aproximavam pararam também e esperaram que eu cruzasse a rua - incrível, não? Sei que pode parecer uma bobagem, mas não é. Este tipo de atitude demonstra uma diferença fundamental em relação à sociedade brasileira: no Brasil, quem tem um carro - qualquer um - pode tudo! O fato de possuir um automóvel é quase um salvo-conduto que te habilita a passar na frente dos outros, a correr, a subir na calçada, a não respeitar outros motoristas e pedestres. Até se for pego dirigindo bêbado ou se matar alguém no trânsito, basta pagar uma fiança irrisória e pronto - você estará livre! Aqui esta "filosofia" não vale, aqui o pedestre vem sempre em primeiro lugar!

Voltei para casa pensando em todas as coisas que ainda vão me surpreender por aqui!

Voltando para a cozinha, vi que a Renata estava correndo de um lado para outro, ocupadíssima com o menu do jantar: costeletas de carneiro, queijo halumi grelhado, tabule, aspargos ao molho de manteiga e alho, salada de alface e bolinhos de arroz! Uma delícia, uma delícia! Toda refeição na casa de minha irmã se parece com a festa de Babette! Jantamos ao som de Elis Regina e Tom Jobim - CDs da coleção de meu cunhado.

Depois do jantar voltamos para a sala de TV e agora estamos assistindo à Desperate Housewives. Final de domingo, mas amanhã é feriado aqui - ainda um feriado relacionado à Páscoa. O Tony trabalha pela manhã, mas vamos nos encontrar com ele à tarde para almoçar.

Comecei a procurar casas e me interessei por algumas. Já enviei emails aos corretores para agendar uma visita e agora estou esperando a resposta deles. Creio que nesta semana vamos sair para ver alguns imóveis. Se Deus quiser vou encontrar uma casa bonita e confortável que caiba no meu bolso.

É isso por hora!

Cheers,
Cláudia

sábado, 23 de abril de 2011

Relax total!


Hoje passei o dia descansando! "Decompressing" of all the tension from last week!

O Tony estava trabalhando e a Renata resolveu ir ao supermercado bem quando eu estava escrevendo este blog. Não fui com ela - aproveitei o silêncio da casa, só interrompido pelo ir e vir dos gatos.

Por volta das 13h a Renata voltou das compras trazendo um aromático frango de televisão - aqui também tem! - uma garrafa de vinho branco geladinho e um pacote de salada. Em 10 minutos ela preparou uma salada deliciosa com folhas verdes variadas, cebolinha, nozes, azeite e um xarope balsâmico - parece o vinagre mas é espesso e mais adocicado. Tudo um delícia!

Ficamos nós duas por aqui, conversando, vendo TV e rindo muito até que o Tony voltou do trabalho. Meu cunhado estava visivelmente cansado e foi direto para a cama tirar uma soneca. Minha irmã tinha outros planos: ela queria ir até uma loja de antiguidades aqui no bairro (na realidade o lugar parece mais uma loja de velharias) para comprar um espelho grande e pendura-lo em cima da lareira de seu living room.

Fomos as duas até lá, sempre falando muito e aproveitando a deliciosa tarde quente e ensolarada. Chegando na loja, a Renata logo escolheu um espelho oval, com moldura de madeira. Eu vi um outro, do mesmo tamanho e no mesmo formato, mas com a moldura dourada e esculpida com florzinhas. Claro que gostei mais da segunda opção e com isso plantei a dúvida no cérebro de minha irmã. Estávamos assim, tentando decidir qual espelho comprar quando o dono da loja se aproximou e disse que se a Renata dividia a casa com um homem então ela deveria , sem sombra de dúvidas, escolher o quadro com a moldura de madeira escura. E assim foi feito!

Ficamos o resto do dia por aqui, tomando sorvete, conversando, num clima 100% relax. À noite minha irmã fez mais uma incursão na cozinha e nos brindou com uma massa MARAVILHOSA ao molho de espinafre e queijo gorgonzola. Uma delícia! O talento culinário de minha irmã tem me surpreendido a cada dia!

Enquanto a Renata preparava o molho da massa, o Tony resolveu consultar o "Bartender Bible" e nos preparou dois drinques diferentes mas igualmente gostosos: White Lady e  Bernardo, ambos servidos em delicadas taças de dry martini.

Por volta das 22h foi para meu quarto e conversei com a Helena e o Dudu pelo Skype. Os dois estavam se preparando para a festa de aniversário da prima. Um clima de confusão e gritaria (e cachorro latindo) pairava por lá. Não vejo a hora de ter os dois comigo aqui! O Pedro está em Campos do Jordão com alguns amigos...

Por falar nisso, na quarta-feira, quando ainda estava em Ardore, recebi uma ligação da orientadora escolar do Pedro - a Delma. Ele me ligava para dizer que o Pedro havia faltado e perdido uma prova. A substitutiva vai acontecer já na segunda-feira, depois do feriado, e o o Pedro precisa apresentar um atestado médico para poder fazer o teste. Liguei para o Pedro na mesma hora e soube que ela havia faltado para poder viajar com os amigos - tudo devidamente autorizado pelo pai. Ótimo, né? Este é um assunto que tem me tirado o sono!

Depois de falar com as crianças assisti a mais um episódio da maravilhosa minisérie The Kennedys e fui dormir, com a Carmela em meus pés.

Cheers,
Cláudia

Recado para o papai


Pai, assista à mini série The Kennedys! É maravilhosa, além de ser uma aula de história. Aí vai o link: http://www.baixartv.com/download/The-Kennedys/

A mamãe vai adorar o drama familiar!
A Renata me disse que a família tentou impedir a produção da mini série - por conta de alguns episódios sórdidos aqui revelados - mas não conseguiu! Excelente!!

beijos!


Voltando para casa...em Londres!


6ª feira Santa!



Hoje é sexta-feira santa e eu nasci numa sexta-feira santa – apesar de não ser meu aniversário, espero que o dia só me reserve agradáveis surpresas.

Acordei às 10h, já ansiosa com a perspectiva de ir embora.  Não me entendam mal, a Itália é linda, Ardore é uma graça e a família aqui me recebeu super bem. São todos muito fofos e queridos, por isso não quero parecer ingrata.  No entanto, estou desde quarta-feira  sem Internet, não tenho televisão e as ligações por celular custam uma fortuna (o meu telefone ainda é o do Brasi) – assim, me sinto  totalmente isolada do mundo. Prá piorar não falo a língua daqui e até ontem não podia sair de casa por medo de perder a visita do vigille. Não vejo a hora de voltar para o mundo.

Levantei-me da cama, fiz café e fiquei enrolando até às 11 horas, quando comecei a arrumar o apartamento e a fazer minhas malas. A Daiane me disse que chegaria por volta do meio dia – aqui não é a Inglaterra e o “por volta de” vigora sim. Às 12h30 chegaram a Daiane e uma outra moça italiana – muito tímida ela não se apresentou, mas percebi que só falava italiano.

De acordo com o contrato que assinei tenho que entregar o apartamento do mesmo jeito que o encontrei – em perfeitas condições.  Por isso, a Daiane subiu e fez uma vistoria em todos os cômodos. Tudo em ordem a não ser por um problema: eu não poderia deixar lá nada daquilo que a simpática família havia me dado: vinho, pães, molho de tomate, laranjas e limões. O que eu comprei e não usei podia ficar – uma garrafa d’agua, uma coca-cola e um pacote de papel higiênico. Por que? Por que os italianos se magoariam se constatassem que não levei/consumi os presentes. Tentei argumentar dizendo que seria impossível consumir 10 limões gigantes e sete laranjas em três dias. Também não conseguiria tomar todo aquele vinho (de teor alcoólico elevadíssimo), nem ingerir quase dois litros de molho de tomate em tão pouco tempo.  Por outro lado, levar tudo aquilo comigo estava fora de cogitação – imagine se eu precisava deste enrosco na alfândega inglesa! Ainda assim a Daiane disse que teríamos que levar para não ferir os sentimentos de ninguém. Colocamos tudo no carro e combinamos que a Daiane e sua amiga levariam os víveres para casa delas.

Próximo passo: a despedida! Como já disse, aquela família foi muito carinhosa comigo e na hora de ir embora não foi diferente. Ambos – Rosa e seu marido – me abraçaram muito, disseram que eu já fazia parte da família e que deveria voltar no verão! A Rosa ainda disse que na chegada tudo é lindo, mas que a partida é sempre ‘bruta’! Vejam os dois fofos na foto!

Partimos rumo a Reggio Calabria – uma hora de viagem. Lá fomos direto a uma estação de trem, onde comprei a passagem para Lamezia, cidade de onde parte o avião para Londres. Tive sorte, o próximo trem partiria em meia hora. Comprei o bilhete, despedi-me da Daiane e de sua amiga tímida e caminhei até a plataforma do trem. Entrei no vagão 5 (carrozza 5) e me acomodei. Os trens são relativamente baratos (14 euros para uma viagem de 1 hora e 15 minutos), bastante confortáveis e limpos. A foto aí do lado fui eu quem tirou.

Logo partimos e rapidamente cheguei ao meu destino. Em Lamezia,  procurei um táxi - havia vários em frente da estação, mas todos vazios. Assim que parei e examinei os carros, percebi que todos os motoristas estavam num bar ali do lado. Um senhor veio até mim e eu perguntei quanto custaria um táxi até o aeroporto: "zehn". "Zehn"? Mas isso significa "dez" em alemão. Achei que estivesse entendo mal. Pedi ao homem que repetisse e ele mais uma vez: "zehn", agora acompanhado de duas mãos abertas mostrando os dez dedos. Ok, entrei no carro ainda sem entender porque o italiano estava falando daquele jeito. Na minha ignorância, tinha medo de ele estar dizendo "cem" - mas logo vi que não podia ser por que esta palavra tem outro som em italiano e o aeroporto era mesmo bem perto da estação, não podia custar tanto. Em cinco minutos chegamos, paguei o homem -eram 10 euros mesmo - acenei me despedindo. O motorista, achando que estava sendo super profissional, respondeu "aufwiedersehen" - "até logo" em alemão. Resumindo: ele viu que eu não falava italiano e assumiu que eu era alemã. Tudo bem...

Cheguei no aeroporto com muita antecedência - às quatro horas! Lembrando que meu vôo saia às 21h. O aeroporto de Lamezia é bem pequeno e não oferece opções para o viajante. Por milagre consegui uma "nesga" de sinal para conectar meu computador ao mundo. Fiquei navegando por umas duas horas, até a bateria acabar - Lamezia não é como o Brasil , onde é possível encontrar dezenas de tomadas no aeroporto para carregar a bateria do computador. Fiquei lendo o resto do tempo.

Às 19h40 iniciou-se o check-in da Ryanair -que aliás, é uma bosta de companhia aérea. Eu sei que é barata, então é uma bosta barata! Tive que viajar naquele pau-de-arara por que as passagens pela Altália tinham se esgotado! Fui atendida por uma italiana grossíssima e de má vontade (mulher  horrorosa que não tem sobrancelhas e por isso as desenha com um lápis de olho - um pavor!) e mostrei a ela o código de minha reserva. Lembrando que estava há dias sem internet e por isso não tinha conseguido imprimir o cartão de embarque. A mulher horrorosa me disse então que teria que me cobrar a impressão do documento. Ok, sem problemas. Quanto é? Resposta: 40 euros!! Como pode custar 40 euros a impressão de um boarding pass se a passagem custou 115 euros? Disse para a italiana que aquilo era um absurdo, mas ela respondeu: "I don't make the laws!" - tudo isso num sotaque carregadíssimo e com as sobrancelhas riscadas a lápis num tom de cinza! Ódio!!

Para piorar, esta mulher começa a examinar meu passaporte e pergunta como eu vou para Londres se eu não tenho visto. Respondo que não é preciso visto para Londres. Ela pergunta então se eu tenho o bilhete de volta para o Brasil, porque, segundo ela, sem ele, eu não seria admitida no país. Eu disse que tinha sim a passagem de volta e informei a ela a data de meu regresso - 9 de maio. 

Impresso meu boarding pass fiquei esperando o momento de embarcar. Eu voltei a ficar tensa com a história da alfândega em Londres, porque apesar de ter a passagem de volta, eu não a tinha comigo. Os papéis comprovando minha volta estavam na casa da Renata. Comecei a sentir um calafrio - eu queria chegar logo! Não tinha mais ânimo para outra batalha no aeroporto em Londres. Ficamos 40 minutos na fila do passport control, em Lamezia. Havia só um policial para examinar os documentos de todo mundo! Quando chegou a minha vez, o "carabiniere" folheou meu passaporte diversas vezes e repetiu as mesmas perguntas que a mulher sem sobrancelha já havia feito: cade o visto? mora em Londres? tem passagem de volta para o Brasil? sem ela não entra na Inglaterra...

Naquelas alturas eu já estava bem preocupada com meu futuro próximo - onde será que iria dormir esta noite? Numa sala de aeroporto com todas as "personas non grata"? 

Finalmente fomos chamados para embarcar - formamos uma fila e lá aguardamos por mais uma hora!! O vôo já estava bem atrasado! Eu estava achando tudo aquilo esquisito porque a sala de embarque é toda envidraçada e eu podia avistar a pista lá fora: não havia nenhum avião naquele portão. Lá pelas tantas vejo a aeronave da Ryanair se aproximar. Eles abrem as portas do avião e todos os passageiros descem - isso era mal sinal. Ainda teríamos que esperar o avião ser limpo e reabastecido antes de entrarmos. Será? Claro que não! Fomos conduzidos, de ônibus, até o avião e lá, para minha surpresa foi uma correria - os assentos não são marcados! Imaginem o estouro da boiada, cada um tentando garantir para si um bom lugar e um espaço para acomodar suas bagagens de mão. Um pesadelo. O interior da aeronave estava um nojo - chocolate pisado, papéis de bala, restos de amendoim...pior que chão de cinema! Não é uma graça a Ryanair? Eles não higienizam - sequer varrem! - o avião.

Vôo lotado. Vôo atrasado em mais de uma hora! Aquelas pessoas com look Tony Soprano que encontrei no vôo da Alitália definitivamente não estavam lá. Eu agora me encontrava na "excursão dos cafonas"! A mulher que se sentou ao meu lado tinha um bunda gigante que não cabia na poltrona e que invadia meu espaço -  ela tinha um cabelo igual ao do cantor ovelha (vejam foto ao lado) na cor pinhão.
Suas sobrancelhas também eram desenhadas (aqueles riscos me lembravam o Mr.Potato Head e suas sobrancelhas móveis). ela vestia uma roupa inacreditável e calçava tênis prateados (!) e com salto (!!). Para complementar a abominação, a querida recendia um perfume de Patchouli!! Pode ser pior?

Fiquei pensando na quantidade de mulheres sem sobrancelhas que já vi na Europa - será que estas pessoas estiveram recentemente em Fukushima ou passaram a infância em Chernobyl?

Assim, aguentei aquele vôo por três horas. 
Chegamos em Londres à meia-noite e mais uma vez tivemos que descer na pista - está é uma prática comum na Europa, definitivamente. Fui correndo para a fila de conferência dos passaportes e a encontrei imensa!!

O desânimo tomou conta de mim: cansaço, fome, vontade de tomar banho,fome, fome e, principalmente, um sentimento horrível de rejeição! Não queria ter que ficar me explicando novamente para aquelas pessoas que me olhavam com cara de "você não é bem vinda!". Eu queria tanto ser bem-vinda!

Durante o vôo e quando esperava na fila, fiquei ensaiando o discurso: "olha, eu tenho uma casa no Brasil, tenho três filhos - neste momento eu iria sacar meu celular e mostrar a todos eles estas crianças lindas e de olhos azuis - gosto do Brasil e se eu quisesse morar aqui eu tiraria um passaporte italiano porque minha mãe é italiana. Então, como você pode ver, eu não tenho necessidade de ficar clandestina". Todo este falatório foi repassado na minha cabeça por diversas vezes. 

Quando, finalmente, estava chegando a minha vez de ser atendida, vi que havia uma indiana num dos guichês e pedi a Deus que me livrasse dela - eu ainda estava traumatizada com o "simpático" que me interrogou na chegada a Londres. Deus me ouviu e fui atendida por um inglês jovem, que olhou meu passaporte e que imediatamente falou: "enjoy your stay in London"! Só isso! Menos de dois minutos!! Ai que alívio, que alegria, que sentimento de boas vindas!! Eu estava exultante agora.

Peguei minha mala - a última da esteira - e sai dali. Logo adiante já havia um rapaz com uma placa com o meu nome! Era o táxi que a Renata havia enviado para me buscar. O pobre rapaz - Marcel - ficou me aguardando por todo este tempo: uma hora de atraso da Ryanair, mais uma hora na fila do passaporte. Eram mais de duas da manhã e o Marcel, firme. Fiquei muito agradecida e ele me conduziu até o carro.

Viemos conversando - o trajeto durou 50 minutos -  e fiquei sabendo tudo sobre sua vida. Eu sou muito conversadeira e nunca entendi as pessoas que reclamam de motoristas que gostam de conversar! Eu adoro bater-papo. O Marcel é romeno, mora em Londres com a mulher, o irmão, a cunhada e um sobrinho de quatro meses. 

Às três da manhã cheguei na casa da Renata - uma alegria indescritível apesar da fome! Eu só tinha tomado café e beirava a inanição.  Entrei silenciosamente, na medida do possível, porque a casa da Renata deve ter uns 500 anos e faz todo o tipo de barulhos e rangidos. Fui até meu quarto e encontrei a Carmela deitada em cima da minha mala - uma fofa! Tomei banho - delícia das delícias - fui atá a cozinha, peguei um copo de leite e um pote de biscoitos e voltei para a cama. Li um pouco para relaxar e dormi...

Hojé é sábado e quando acordei encontrei a Renata gripadíssima! Ela tomou uns comprimidos e agora quer sair para dar uma volta pelo bairro. O Tony está trabalhando e só volta à tarde. O dia está lindo e ensolarado! Vou aproveitar um pouco desta cidade incrível, me sentindo finalmente livre para fazer, cada vez mais, parte dela!

Cheers, 
Cláudia